Da esquerda para a direita; do canto superior ao inferior: Foto modificada pelo jornal The Sun,mostrando suposto beijo entre Diana e Dodi; foto verdadeira tirada por fotógrafo; A princesa em Angola,caminhando em defesa da desativação das bombas terrestres;Cortejo fúnebre em 31 de Agosto de 1997;Diana no elevador do Ritz horas antes de morrer; Grupo papparazi em frente à academia freqüentada por Diana. Ao centro: pintura de Joe Hendry ‘Diana com penteado para trás’
30 de dezembro de 2008 - São Paulo, Brasil
Lúcia sentou-se incrédula diante da barrinha de notícias da televisão. O cérebro computou como inverossímeis as palavras que os olhos míopes captaram. Saiu à procura dos óculos e sentou-se, tremendo, na borda da cama. As lentes confirmaram o que seu coração adiantou. O telefone tocou. Imediatamente, em inglês, um de seus amigos mais antigos falou, demonstrando nervosismo também:
- Lúcia, você soube da notícia?
- Sim. Mais uma vez eles estão sofrendo. Não sei mais como isso vai continuar. Ela não está aqui. Não pode desmentir esses absurdos. São tantas “Amizades íntimas” que aparecem, tantas notícias confirmadas por “amantes” e publicadas na mídia, que fica difícil para eles defenderem a mãe. Eram tão novos quando tudo aconteceu!
- É por isso que eu liguei. Acho que temos a solução. Porém, precisamos de você aqui.
- Eu? Voltar?
- É uma maneira. Pense em William e Harry.
Lúcia Flecha de Lima desligou o telefone ansiosa. Voltaria para a Inglaterra? Estava curiosa com a ligação.
A última vez que esteve naquele país foi há um ano, na missa de aniversário de morte da princesa. Ficou apenas um dia e voltou. Nunca mais olharia a Inglaterra com a ternura e a alegria de antes.
A amizade começou em 1991, quando o casal real fez uma viagem ao Brasil acompanhado por Lúcia e o marido, embaixador do Brasil na Inglaterra. A partir de então as duas tornaram-se grandes amigas. Diana era considerada parte da família e mesmo depois de separadas, quando o marido de Lúcia foi transferido para Washington, não deixaram de se falar. Lúcia sabia de como Diana sofreu após o casamento, com a mídia sempre articulando planos para difamar seu nome e a família real fazendo de tudo para afastá-la dos filhos.
Lembrou-se do acidente. Duas lágrimas rolaram em seu rosto, mas ela não se importou. Começou a arrumar as malas. Era por Diana que fazia isso. Por Diana e pelos meninos.
Outro livro publicado. Dessa vez, pelo pai de Dodi Al- Fayed, ex- namorado de Diana, ambos mortos no acidente de carro. Lúcia não entendia por que Mohamed Al- Fayed, rico como era, lucraria escrevendo um livro assim, que só traria à tona lembranças, mentiras e sofrimento para as pessoas, principalmente aos filhos da princesa. Ela era conhecida como a princesa do povo. Por que as pessoas insistiam em alterar essa imagem?
Lúcia foi recebida no aeroporto por John, o amigo que ligara. Sem dar explicações, conduziu-a a um carro, que seguiu até um lugar que Lúcia nunca tinha visto, totalmente novo e moderno.
- Aqui estamos desenvolvendo um projeto de uma máquina do tempo. Ela já está pronta. Queria voltar e mudar a história. E a primeira que eu gostaria de modificar é a de Diana. Quero que você me ajude a lembrar o que exatamente ocorreu nos dias anteriores à viagem. Conte-me alguns detalhes para que eu possa salvar Diana do acidente. Nós precisamos dela aqui. Sei que isso é doloroso para você, mas é importante.
John deixou Lúcia no Hotel. À noite ela se lembrou dos momentos que passaram juntas. Sentiu vontade de rever a amiga, que fazia tanta falta. Levantou-se decidida e chamou o táxi, que a conduziu até o local do projeto.
Entrou sem que ninguém a visse e aproximou-se da máquina. Usou da sua experiência de conferências internacionais de ciência e o seu inglês fluente para entender o que cada um daqueles botões significava. A saudade foi o maior impulso. Fechou os olhos e respirou fundo. A volta no tempo renovou esperanças e ilusões.
29 de agosto de 1997 - Londres, Inglaterra.
Lúcia apareceu no quarto de hotel. Olhou a janela. Estava frio e a noite escura. Porém, um dos postes iluminou um vulto que ela reconheceu pelas roupas, iguais às que ela usava agora. Correu para a porta do quarto e ganhou o corredor. Um encontro com a outra Lúcia só tornaria as coisas mais complicadas. Escondeu-se no hall de entrada, esperando que a outra passasse. Chegando à rua, abriu o bolso e pegou as moedas. Tremendo, inseriu-as na cabine e discou o número que ainda lembrava de cor. Do outro lado da linha, Diana atendeu um tanto nervosa. Lúcia não teve coragem de responder ao telefone. Diana insistiu, dizendo, de repente:
- Lúcia?
Assustou-se. Como ela adivinhara? Deu uma risada. Esquecia-se de como Diana era misteriosa às vezes. Olhou o relógio. À esta hora, já tinha conversado com ela, portanto nada do que dissesse faria diferença no futuro. Pediu que não viajasse para Paris, mas Diana insistiu, dizendo que precisava ficar fora da Inglaterra por um tempo. Depois da separação, não queria mais andar com seguranças. Queria, mais que tudo no mundo, aquela liberdade que perdera depois do casamento. E Dodi, segundo ela, fazia-a sentir-se segura e livre. A amiga implorou que reconsiderasse, mas Diana foi firme. Pela primeira vez sentia-se feliz por estar com alguém que a amava e que, diferente do ex-marido, a tratava com respeito.
Lúcia desistiu de convencer Diana sobre o erro que cometia. Ao se despedir disse o quanto a amiga era especial e que a amizade era eterna.
30 de agosto de 1997 - Paris, França.
Lúcia não hesitou em aproveitar a oportunidade de mudar o destino de sua amiga, e resolveu viajar a Paris. Só conseguia pensar nas últimas horas de vida da amiga e de como iria mudar isso. Lembrou-se do que ela fizera pelos outros e pelo mundo,quando arriscava sua vida para desmistificar tabus e preconceitos quando ela mesma sofria de muitos. Podia sentir a nostalgia se espalhando em cada músculo do seu corpo, e percebeu a responsabilidade do que ela realizaria em algumas horas. Muitas coisas mudariam se isso desse certo. As colinas da Inglaterra voltariam a florescer!
O tempo passava e Diana saiu do Hotel Ritz cercada de “paparazzis”. Lúcia não teve tempo de esboçar nenhum plano, não agiu ao ver sua amiga ao lado de um homem que realmente a fazia feliz. Perdida na visão que tanto presenciara seus sonhos nos últimos anos, não percebeu que Diana entrava no carro a caminho de sua morte. Procurou desesperadamente um táxi, qualquer meio que a fizesse alcançar a princesa e impedir o acidente, porém ninguém podia ajudá-la, ninguém imaginava o que estava prestes a acontecer. Viu o carro abandonado de um dos paparazzi que correu de moto atrás da princesa. Abriu a porta, girou a chave. Acelerou. Seu coração não agüentava mais tanta pressão. Ultrapassou as motos que corriam atrás do carro. Sentia o pulsar de suas veias, a adrenalina enchendo seu coração. O ódio por aquelas pessoas dominando seu pensamento. Diana olhou para trás, assustada com a quantidade de motos que se multiplicavam. Diminuiu: tinha consciência de que o destino estava sendo escrito e que tinha como apagar e reescrever. Estava fazendo a curva para fechar as motocicletas, para salvar sua amiga e talvez morrer. Parou.
31 de dezembro de 2008 – São Paulo, Brasil
Não estava mais em suas mãos. Foi mandada de volta para o futuro. Ninguém tem o direito de alterar a harmonia do tempo e do cosmos. Se impedisse os paparazzi, Lúcia sofreria um grave acidente e seria socorrida. Sua identidade seria revelada e teria de ser explicada sua semelhança com a embaixatriz brasileira Lucia Flecha de Lima, que àquela hora estava em Londres.
Era doloroso. O choro era inevitável. Porém, perdendo sua melhor amiga pela segunda vez, compreendeu que não podia ser diferente. Talvez fosse melhor não viver num mundo de lobos carnívoros e loucos que sacrificam vidas em troca de fotografias banais.
“Há 11 anos, Diana era apenas uma princesa. Agora é uma lenda. Lendas nunca morrem, sempre permanecem nos corações dos que amam, como uma vela que nunca se apagará, não importando a chuva ou o vento que surja.”
Lembrou-se, então, da linda canção tocada por Elton John no funeral, que mobilizou toda uma nação às ruas e cuja protagonista mudou o mundo e todo um sistema comportamental da monarquia, contestando-a, mesmo fazendo parte dela.
“Adeus, Rosa da Inglaterra
Que você sempre floresça em nossos corações.
Você foi o encanto que colocou a si mesma
Onde vidas foram dilaceradas.
Adeus, Rosa da Inglaterra,
Do país, perdido sem sua alma,
Que vai sentir falta da proteção da sua compaixão,
Mais do que você jamais saberá.”
Lúcia sentou-se incrédula diante da barrinha de notícias da televisão. O cérebro computou como inverossímeis as palavras que os olhos míopes captaram. Saiu à procura dos óculos e sentou-se, tremendo, na borda da cama. As lentes confirmaram o que seu coração adiantou. O telefone tocou. Imediatamente, em inglês, um de seus amigos mais antigos falou, demonstrando nervosismo também:
- Lúcia, você soube da notícia?
- Sim. Mais uma vez eles estão sofrendo. Não sei mais como isso vai continuar. Ela não está aqui. Não pode desmentir esses absurdos. São tantas “Amizades íntimas” que aparecem, tantas notícias confirmadas por “amantes” e publicadas na mídia, que fica difícil para eles defenderem a mãe. Eram tão novos quando tudo aconteceu!
- É por isso que eu liguei. Acho que temos a solução. Porém, precisamos de você aqui.
- Eu? Voltar?
- É uma maneira. Pense em William e Harry.
Lúcia Flecha de Lima desligou o telefone ansiosa. Voltaria para a Inglaterra? Estava curiosa com a ligação.
A última vez que esteve naquele país foi há um ano, na missa de aniversário de morte da princesa. Ficou apenas um dia e voltou. Nunca mais olharia a Inglaterra com a ternura e a alegria de antes.
A amizade começou em 1991, quando o casal real fez uma viagem ao Brasil acompanhado por Lúcia e o marido, embaixador do Brasil na Inglaterra. A partir de então as duas tornaram-se grandes amigas. Diana era considerada parte da família e mesmo depois de separadas, quando o marido de Lúcia foi transferido para Washington, não deixaram de se falar. Lúcia sabia de como Diana sofreu após o casamento, com a mídia sempre articulando planos para difamar seu nome e a família real fazendo de tudo para afastá-la dos filhos.
Lembrou-se do acidente. Duas lágrimas rolaram em seu rosto, mas ela não se importou. Começou a arrumar as malas. Era por Diana que fazia isso. Por Diana e pelos meninos.
Outro livro publicado. Dessa vez, pelo pai de Dodi Al- Fayed, ex- namorado de Diana, ambos mortos no acidente de carro. Lúcia não entendia por que Mohamed Al- Fayed, rico como era, lucraria escrevendo um livro assim, que só traria à tona lembranças, mentiras e sofrimento para as pessoas, principalmente aos filhos da princesa. Ela era conhecida como a princesa do povo. Por que as pessoas insistiam em alterar essa imagem?
Lúcia foi recebida no aeroporto por John, o amigo que ligara. Sem dar explicações, conduziu-a a um carro, que seguiu até um lugar que Lúcia nunca tinha visto, totalmente novo e moderno.
- Aqui estamos desenvolvendo um projeto de uma máquina do tempo. Ela já está pronta. Queria voltar e mudar a história. E a primeira que eu gostaria de modificar é a de Diana. Quero que você me ajude a lembrar o que exatamente ocorreu nos dias anteriores à viagem. Conte-me alguns detalhes para que eu possa salvar Diana do acidente. Nós precisamos dela aqui. Sei que isso é doloroso para você, mas é importante.
John deixou Lúcia no Hotel. À noite ela se lembrou dos momentos que passaram juntas. Sentiu vontade de rever a amiga, que fazia tanta falta. Levantou-se decidida e chamou o táxi, que a conduziu até o local do projeto.
Entrou sem que ninguém a visse e aproximou-se da máquina. Usou da sua experiência de conferências internacionais de ciência e o seu inglês fluente para entender o que cada um daqueles botões significava. A saudade foi o maior impulso. Fechou os olhos e respirou fundo. A volta no tempo renovou esperanças e ilusões.
29 de agosto de 1997 - Londres, Inglaterra.
Lúcia apareceu no quarto de hotel. Olhou a janela. Estava frio e a noite escura. Porém, um dos postes iluminou um vulto que ela reconheceu pelas roupas, iguais às que ela usava agora. Correu para a porta do quarto e ganhou o corredor. Um encontro com a outra Lúcia só tornaria as coisas mais complicadas. Escondeu-se no hall de entrada, esperando que a outra passasse. Chegando à rua, abriu o bolso e pegou as moedas. Tremendo, inseriu-as na cabine e discou o número que ainda lembrava de cor. Do outro lado da linha, Diana atendeu um tanto nervosa. Lúcia não teve coragem de responder ao telefone. Diana insistiu, dizendo, de repente:
- Lúcia?
Assustou-se. Como ela adivinhara? Deu uma risada. Esquecia-se de como Diana era misteriosa às vezes. Olhou o relógio. À esta hora, já tinha conversado com ela, portanto nada do que dissesse faria diferença no futuro. Pediu que não viajasse para Paris, mas Diana insistiu, dizendo que precisava ficar fora da Inglaterra por um tempo. Depois da separação, não queria mais andar com seguranças. Queria, mais que tudo no mundo, aquela liberdade que perdera depois do casamento. E Dodi, segundo ela, fazia-a sentir-se segura e livre. A amiga implorou que reconsiderasse, mas Diana foi firme. Pela primeira vez sentia-se feliz por estar com alguém que a amava e que, diferente do ex-marido, a tratava com respeito.
Lúcia desistiu de convencer Diana sobre o erro que cometia. Ao se despedir disse o quanto a amiga era especial e que a amizade era eterna.
30 de agosto de 1997 - Paris, França.
Lúcia não hesitou em aproveitar a oportunidade de mudar o destino de sua amiga, e resolveu viajar a Paris. Só conseguia pensar nas últimas horas de vida da amiga e de como iria mudar isso. Lembrou-se do que ela fizera pelos outros e pelo mundo,quando arriscava sua vida para desmistificar tabus e preconceitos quando ela mesma sofria de muitos. Podia sentir a nostalgia se espalhando em cada músculo do seu corpo, e percebeu a responsabilidade do que ela realizaria em algumas horas. Muitas coisas mudariam se isso desse certo. As colinas da Inglaterra voltariam a florescer!
O tempo passava e Diana saiu do Hotel Ritz cercada de “paparazzis”. Lúcia não teve tempo de esboçar nenhum plano, não agiu ao ver sua amiga ao lado de um homem que realmente a fazia feliz. Perdida na visão que tanto presenciara seus sonhos nos últimos anos, não percebeu que Diana entrava no carro a caminho de sua morte. Procurou desesperadamente um táxi, qualquer meio que a fizesse alcançar a princesa e impedir o acidente, porém ninguém podia ajudá-la, ninguém imaginava o que estava prestes a acontecer. Viu o carro abandonado de um dos paparazzi que correu de moto atrás da princesa. Abriu a porta, girou a chave. Acelerou. Seu coração não agüentava mais tanta pressão. Ultrapassou as motos que corriam atrás do carro. Sentia o pulsar de suas veias, a adrenalina enchendo seu coração. O ódio por aquelas pessoas dominando seu pensamento. Diana olhou para trás, assustada com a quantidade de motos que se multiplicavam. Diminuiu: tinha consciência de que o destino estava sendo escrito e que tinha como apagar e reescrever. Estava fazendo a curva para fechar as motocicletas, para salvar sua amiga e talvez morrer. Parou.
31 de dezembro de 2008 – São Paulo, Brasil
Não estava mais em suas mãos. Foi mandada de volta para o futuro. Ninguém tem o direito de alterar a harmonia do tempo e do cosmos. Se impedisse os paparazzi, Lúcia sofreria um grave acidente e seria socorrida. Sua identidade seria revelada e teria de ser explicada sua semelhança com a embaixatriz brasileira Lucia Flecha de Lima, que àquela hora estava em Londres.
Era doloroso. O choro era inevitável. Porém, perdendo sua melhor amiga pela segunda vez, compreendeu que não podia ser diferente. Talvez fosse melhor não viver num mundo de lobos carnívoros e loucos que sacrificam vidas em troca de fotografias banais.
“Há 11 anos, Diana era apenas uma princesa. Agora é uma lenda. Lendas nunca morrem, sempre permanecem nos corações dos que amam, como uma vela que nunca se apagará, não importando a chuva ou o vento que surja.”
Lembrou-se, então, da linda canção tocada por Elton John no funeral, que mobilizou toda uma nação às ruas e cuja protagonista mudou o mundo e todo um sistema comportamental da monarquia, contestando-a, mesmo fazendo parte dela.
“Adeus, Rosa da Inglaterra
Que você sempre floresça em nossos corações.
Você foi o encanto que colocou a si mesma
Onde vidas foram dilaceradas.
Adeus, Rosa da Inglaterra,
Do país, perdido sem sua alma,
Que vai sentir falta da proteção da sua compaixão,
Mais do que você jamais saberá.”
Carolina
Ana Carolina
Helena
Maria Paula
Um comentário:
Observação: a frase na foto é: "Mesmo enquanto lutava para saobreviver, Diana estava sendo vendida como furo de reportagem." Tina Brown, autora de Diana: Crônicas Íntimas
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