
A arqueologia e a história baseada em evidências sempre me fascinaram. Após sucessivos exames de seleção e uma tese de doutorado, consegui uma vaga no centro de arqueologia do Egito que estudava as tumbas de um dos maiores faraós dessa sociedade milenar. Tudo começou naquela tumba.A quinta câmara do centro de pesquisas possuía, em suas paredes, hieróglifos diferentes dos clássicos alfabetos egípcios; e historiadores locais julgavam uma informação que dificilmente seria descoberta. Em minha opinião faltou-lhes ousadia: os hieróglifos poderiam ir além do Egito, além do que o pensamento lógico poderia deduzir. Anos de estudo em cima dessas escritas permitiram-me concluir que os hieróglifos continham contextos históricos muito à frente da data compreendida entre o início e a queda do Antigo Egito. Naquela câmara encontrei a chave para alterar o tempo e o espaço – um ritual que me levaria a qualquer lugar ou circunstância. Dentro do grande salão dos sacerdotes do faraó, iniciei o ritual de maneira secreta. A junção das palavras místicas e um pequeno pedaço de carne do faraó desencadearam uma série de rachaduras esverdeadas no chão, e algo intuitivo me fez pular contra ele. A grande escuridão que se iniciou, acabou por me levar aos pés de uma árvore de um extenso jardim. Ao abrir os olhos, notei o que estava ao meu redor, de maneira nostálgica: estava no Rio de Janeiro, década de 80. Foi algo incrível, uma sensação única. Analisei o novo momento histórico, para enfim colocar em prática minha tese de doutorado. Era uma oportunidade de provar que o governo Tancredo Neves seria um sucesso e que seus frutos tornariam o Brasil de 2008 uma grande potência mundial. Estava sem dinheiro, mas em meu bolso havia o remédio que poderia salvar Tancredo que, segundo a data da minha viagem, estava a poucos dias de ser internado e em breve morreria . Caminhei rapidamente até sua residência, e pelo caminho revivi meus 17 anos de idade, os carros, as pessoas e roupas realmente mudaram. Ao chegar à sua residência, bati levemente no batente e aguardei. Uma senhorita me atendeu com certa desconfiança, no entanto, depois de alguma conversa permitiu-me a entrada e esperei pelo futuro presidente, tomando café.Passada meia hora, entrou pela porta frontal Tancredo que, assustado com minha presença, indagou-me o que fazia em sua casa. Como falar que tinha vindo do futuro seria extremamente surreal, disse ser um médico enviado por sua esposa, para tratar de suas dores abdominais. Após alguns exames fictícios em meu suposto paciente, prescrevi o remédio que havia trazido em meu bolso. O remédio retroagiria sua doença antes que ele chegasse a um estado terminal.Após a consulta conversamos por uns instantes, durante os quais Tancredo ingeriu o remédio. A conversa foi genial. Entender a sua política partindo de suas próprias palavras era um sonho para mim. De repente, ele começou a ficar avermelhado. Sua respiração ficou ofegante e seu corpo transpirava exageradamente. Rapidamente chamei uma ambulância, apesar de não fazer idéia do que se tratava. Porém, quando a ambulância chegou, Tancredo já estava morto devido a um ataque alérgico letal. Tentar ajustar o passado em prol do futuro havia sido um terrível desastre. No dia seguinte, quando confirmada sua morte nos noticiários, tratei de realizar o ritual para voltar a 2008 .Chegando ao presente imediatamente, destruí todos os meus estudos e a parede hierografada. Essa viagem ensinou-me que o passado é, por definição, tudo aquilo que já não pode ser mudado. O passado é tudo que já não é.
Alessandra Martins
Augusto Quaresma
Joele Teodoro
Henrique Fernandes
Rafael Marques
Um comentário:
Caraca, muito legal!
Parabéns!
Postar um comentário