quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Amarga decisão




Foi quando Gisele entrou na igreja que tudo começou. Aquele vestido branco, simples e belo. Bem como Daniela gostaria. Ela não vai sair da minha cabeça tão cedo. Melhor ir para casa. Tentar para de pensar nela. Parar de ver o casamento que deveria ser meu e dela. Cumprimento os noivos, invento um mal estar, digo que não deve ser nada grave e vou. Fui.

Em casa, tão desolado e tão culpado. Dúvidas que não me saem da cabeça me fazem demorar a dormir. Logo cedo desperto. Preciso parar com isso. Isso tem que passar. Tenho que apagá-la da minha vida, já faz mais de quarenta anos... A caixinha! Jogarei fora. Dentro dela acho, além das perfumas cartas de amor, o anel. O anel. Ele deveria estar no dedo dela e ela, aqui comigo. Vou vendê-lo. A relojoaria não é longe. Ao mostrar o anel, percebo a cara de espanto do joalheiro ao terminar de examiná-lo. ‘Que anel bem feito. É muito antigo. Não o venda, tenho certeza de que com ele vem uma história’. Lógico que existe uma história, mas conto para o joalheiro? Bom, que mal iria fazer?

‘No dia em que fui comprar este anel, minha futura esposa, Daniela, foi capturada pela polícia, minha culpa... Era época da ditadura. Horrível. Eles estavam atrás de mim. Sou jornalista aposentado. Apesar de usar pseudônimo, me descobriram, não sei como... Não sei como descobriram onde morávamos. Quando a vi sendo presa, não fiz nada, fugi. Fiquei apavorado. Foi tudo culpa minha. Fui covarde. Não tive nem oportunidade de lhe dar um último beijo. Ela foi no meu lugar. Quem deveria ter desaparecido era eu, não ela. ’ O joalheiro não parecia muito surpreso com a história, a impressão era de que ele já sabia de tudo aquilo. ‘Não o venda. Ele pode fazer muito mais por você.’ Simplesmente colocou o anel na palma de uma de minhas mãos e a fechou como quem dissesse: cuide bem disso. ‘Volte pra casa’.

Confuso, segui o conselho e voltei,desatento, olhando para o anel. Não sei o que o anel poderia fazer por mim além de me trazer as lembranças da minha vida com Dani. Ouvi um barulho. Quando virei para o lado, que susto! Tudo estava diferente. Mas, como assim? Olhei para as casas, os carros. Tudo antigo. Meu terno era outro, minhas mãos não estavam mais enrugadas... Eu voltei para aquele dia? Como isso foi possível? Continuei andando. Cheguei em casa, tudo estava como antes. Daniela!! Ai como é bom vê-la. Nada como um abraço bem forte e um beijo apaixonado, como senti falta disso... Tantos anos sem o meu amor. Disse para que ela se arrumasse, fizesse umas malas e as colocasse no carro, que iríamos fugir. Ela estava um pouco nervosa, ansiosa... acho que queria dizer algo ou simplesmente achou estranho eu estar tomando uma decisão tão séria sozinho, sempre decidíamos juntos o que iríamos fazer. Sem explicar nada, dei-lhe mais um abraço e corri para avisar alguns amigos que estávamos fugindo. Cheguei na casa de Flávio, mas ele não estava. Corri para a casa de outro amigo e só disse para que ele avisasse a todos.

Será que iria conseguir salvá-la? Tinha que dar tempo. Tinha que me casar com ela, é o amor da minha vida. Voltei correndo. Quando cheguei na esquina vi o carro da policia parado na porta de casa e Daniela sendo posta para dentro dele. O meu carro com a porta aberta, uma mala jogada na rua com umas roupas caídas. Então foi realmente minha culpa. Descobriram. Eu não estava em casa. Eu a havia mandado pôr as coisas no carro. Não acreditei! Sai correndo para tentar salvá-la. Não deu tempo. O carro já virara a esquina. Não! O que eu fui fazer? Pobre Dani! Sabe lá o que sofreu. Por culpa minha! Por alguns artigos. Pobre Daniela, nem sabia de nada.

Puis a mão no bolso e encontrei o anel. Choro. Desesperado, chorei. Nada mudou, perdi-a pela segunda vez. Agarrei-me a um lenço, que ela amava, caído da mala. Não consegui para de chorar. Respirei. Abri os olhos. Não!! Estou no meio da rua. Não estou mais em casa. Não estou mais no passado. Foi um sonho? Pior que não. Olho minhas mãos. O lenço dela encharcado de lágrimas. Isso realmente aconteceu. Não pode ser. Não posso ter causado isso. Estou com a mesma roupa. Quem sabe não há mais nenhuma lembrança dela que trouxe comigo. Um papel no meu bolso, parece uma carta. Tem a letra da Dani. “Beto, sempre fomos muito francos um com o outro, e chegou a hora de eu ser totalmente franca com você. Há uma coisa que escondo. Inicialmente era para ter certeza de que você era confiável, e depois era porque tinha medo de ser abandonada pela pessoa que mais amo no mundo. Sei que esse amor é correspondido...” E como é, Dani. “... e por isso tomei coragem, mas ela não foi o suficiente para falar pra você, por isso a carta. Faço parte do Partido Comunista, e participo de praticamente todos os eventos. A história da minha irmã doente é tudo mentira, a Paula também é do PC, quando eu dizia que iria visitá-la, na verdade ia a reuniões e manifestações... Por isso não queria que me levasse até a casa da Paula... Agora tudo começa a fazer mais sentido. “... Desculpe-me por não ter contado antes, mas mais do que nunca gostaria que você se mantivesse comigo, há suspeitas de que estão me perseguindo. Qualquer que seja sua decisão, continuar ou não comigo, eu entenderei. Só quero que você saiba que se eu estivesse no seu lugar, pode ter certeza de que estaria disposta a sofrer qualquer conseqüência, só pelo prazer dos dias que passo a seu lado. Te amo muito. Dani.” Não era só eu que escondia algo sério. Éramos do mesmo lado e tínhamos receio de contar a verdade um para o outro, medo de que o outro não nos aceitasse com nossos ideais. Cometemos um grande erro escondendo isso um do outro. Essa sim é a verdadeira causa da nossa separação... Se soubéssemos que a situação em que nos encontrávamos era arriscada, com certeza teríamos fugido antes. Fomos super-protetores, achávamos que estávamos protegendo enquanto, na verdade, estávamos nos deixando muito vulneráveis. Fomos dois tolos, cegos pelo amor incondicional que nos unia. Tomamos decisões erradas, que custaram a nossa felicidade.


Jéssica Emy Komuro
Julia Horcel Ribeiro
Maicon Santos
Paula Malavasi
Rafael Becarelli

3 comentários:

Blog da Christian Barnard disse...

Aaah.. como coloca parágrafo nisso??? Não consegui..
Eh a Julia :D

Se alguem souber por favor coloque :D
Por enquanto vai ficar com esses espaço a mais.
;*

Anônimo disse...

Parabéns, Jéssica,Júlia,Paula,Maicon e Rafael!
Texto muito bom!Perdia a respiração em cada momento.Muito bom o encadeamento das ações.

Blog da Christian Barnard disse...

idem.. num consegui colocar o parágrafo ¬¬

Se alguem conseguir.. por favor? :D

;**

{Fernanda aqui ;}